Nesta metade do globo entrámos há algum tempo no Outono, uma estação bonita e colorida, mas mais escura. É a altura em que as chuvas nos visitam mais vezes e o sol fica mais escondido atrás das nuvens, antecipando o Inverno cinzento. A temperatura baixa e leva-nos a querer ficar dentro de portas.
É nesta altura do ano também que o número de depressões aumenta. Parece que de alguma forma a vida fica mais triste lá fora e cá dentro.
O estado depressivo pode ser consequência de um evento de vida, de um conjunto de condições que se prolonga no tempo, um desequilíbrio químico ou até uma alimentação inadequada. Mas estas condições de tempo podem ampliar este estado. E caso se encontrasse mascarado, é agora que se torna mais claro.
É certo que a diminuição da luz solar afecta mais uns do que outros. No entanto, pelos moldes que adopta e a expressão que este problema tem, faz todo o sentido abordar aqui o assunto.
Em clínica uso diversas metáforas para falar sobre a depressão e as necessidades que ela encobre.
A que mais uso é a das estações do ano. Porque a própria Natureza parece ficar deprimida quando chega o frio. As chuvas e os ventos de Outono parecem trazer a sua graça, pois muitas árvores ficam coloridas, mas começam a despir-se, deixando os seus ramos a descoberto. E à medida que a estação avança e o frio aumenta, a paisagem vai ficando mais cinzenta. No Inverno, a Natureza recolhe-se de tal forma que muitas árvores parecem mortas.
No entanto, elas guardam a vida em si. Recolheram-se dentro de si mesmas. Refugiadas das condições adversas no exterior. Recolheram-se porque precisaram de se proteger.
Recolheram-se para se poderem preparar para a estação seguinte, para uma nova etapa. E quando chega a Primavera percebemos como afinal não estavam mortas e a vida parece renascer com elas. A Primavera é como o renascimento da Fénix, que precisou de morrer para o mundo para se reorganizar e renascer mais completa, com mais vigor.
Entretanto, as chuvas, os ventos, permitiram também que a terra repousasse, tornando-se fértil uma vez mais. Todo este processo permitiu que a Primavera chegasse em todo o seu esplendor, anunciando um novo ciclo.
E a Primavera traz a esperança e a promessa de crescimento.
Se olharmos mais atentamente, podemos perceber que a árvore, no Inverno, não está triste, embora a tristeza passe por ela. Ela pode sentir o tempo cinzento, mas ele não faz parte de si. A árvore está a passar por aquela transformação, mas a estação passa por ela. A árvore não é aquilo.
Ela mantém-se ali, de pé, firme, enraizada porque sabe que este é um processo necessário, para depois se mostrar completa. Porque ela sabe que o renascimento e o crescimento são inevitáveis.
Nós somos como essa árvore. E quando estamos tristes, podemos saber que não somos a tristeza, que a tristeza apenas passa por nós, porque existe algo que é necessário em nós. E depois vem o crescimento.
Mas o que é necessário? Seja o que for, precisa da nossa atenção, de tal forma que nos leva a voltar a atenção para dentro, tal como a árvore desta história. Num estado depressivo, fechamo-nos para o mundo, recolhemo-nos no interior… de casa, de nós mesmos.
Existe uma outra história que gosto muito de usar quando falamos destas necessidades interiores.
Esta história não fala de uma árvore, mas de uma loja. Uma loja como espaço de trocas. Um espaço de disponibilização de produtos ou de serviços. E há um momento específico na história desta loja em que é preciso fazer melhorias ou o inventário… e então ela fecha. E no exterior fica pendurado um letreiro que diz “Fechado para obras”.
Fechado porque o espaço não está em condições para receber clientes. Porque não tem pessoal disponível para atender as pessoas. Está ocupado com o que se passa no interior da loja, as obras necessárias para que o espaço fique melhor.
Mas ter a loja fechada só porque sim e as obras necessárias paradas, é um desperdício. Um desperdício de espaço, de recursos, do potencial de troca… até de tempo!
É preciso fazer as obras.
Quando falamos em depressão, existe esta necessidade de reorganização interna.
Se se sente deprimido, estará a fazê-la? Ou estará apenas a investir no estado em que se encontra. No intervalo do contacto com o mundo, dormindo apenas?
Se estiver bem assim, tudo bem.
Mas se falamos de depressão, há um estado de tristeza e/ou irritação associados, indicando que não está tudo bem. Indicando a necessidade de alguma mudança.
E não adianta esperar que algo ou alguém mude no exterior para que a situação mude. Lembre-se que o letreiro está na sua porta, a necessidade de obras encontra-se no lado de dentro. É, portanto, responsabilidade sua.
Antes de mais, tem todo o direito a estar triste ou chateado com determinada circunstância na sua vida! Tem todo o direito a fechar para obras, a sentir essa necessidade.
Mas depois, convenhamos, as obras são necessárias. É preciso que sejam feitas.
Já referi antes como a tristeza costuma indicar expectativas frustradas, algo que esperávamos que acontecesse e não aconteceu ou que preferíamos que não tivesse acontecido. E muitas vezes acompanha a irritação ou a raiva pela frustração sentida ao verificar que os seus limites não foram ou estão a ser respeitados.
Com ou sem companhia, despoletada por alguma situação no presente ou no passado, a tristeza apenas vem indicar a necessidade de obras. Uma mudança precisa de acontecer para que o equilíbrio se restabeleça.
Precisa de olhar para dentro e perceber o que a tristeza lhe vem comunicar, qual a necessidade e como pode satisfazê-la.
Depois, é o renascimento da Fénix.
Depois, vem o crescimento.
Se for o caso, olhe para dentro, observe, identifique a necessidade e satisfaça-a. Essa responsabilidade é sua e de mais ninguém.
E você quer satisfazer a sua necessidade. Você merece que ela seja satisfeita.
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