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Artigos & Reflexões

por Sofia Morgado

Fobias

Para falar de fobias temos de falar de ansiedade, pois os distúrbios fóbicos são uma das perturbações de ansiedade identificadas pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM).

A ansiedade, tal como o medo, é uma resposta neurofisiológica ao stress sentido e este, segundo Hans Selye (1978) é a resposta não específica do organismo às exigências a ele impostas.

A sua pesquisa pioneira levou ao desenvolvimento do síndroma geral de adaptação, que constitui um conjunto de reacções não específicas desencadeadas quando o organismo é solicitado para se adaptar a um estímulo adverso ou ameaçador. Todos os organismos, desde a bactéria ao Homem, desenvolveram mecanismos de defesa para lidar com mudanças significativas no seu ambiente interno ou externo.

Os estados emocionais, como o são definidos a ansiedade e o medo, modificam e modulam o funcionamento de todas as funções cerebrais e fisiológicas, cuja utilidade é optimizar esta capacidade de adaptação do organismo a um contexto ambiental específico, aumentando as suas hipóteses de sobrevivência, tanto a nível básico (sobrevivência do organismo) como a nível social.

Resumindo, podemos dizer que a ansiedade é um estado de alerta que serve para avisar de um perigo eminente e possibilita a tomada de medidas para enfrentar a ameaça. O medo é um sinal semelhante que se distingue da ansiedade por ser uma resposta a uma ameaça externa conhecida e definida ou de origem não conflituosa. Estes estados emocionais são muito próximos e são regulados pelo Sistema Nervoso Autónomo, que desempenha um papel importante em situações de emergência.

Mas esta resposta “inata” serve para nos deixar em estado de alerta, prontos a reagir, ao nos depararmos, por exemplo, com uma cobra ou mesmo para impulsionar o nosso estudo para um exame, prevenindo uma nota baixa e consequente abalo no nosso ego.

Muitas são, também, as vezes em que o perigo não existe e, ainda assim, este sistema é activado como que por engano. No entanto, é mais fácil desencadear todo o processo do que travá-lo, funções estas reguladas por diferentes áreas no nosso cérebro.

A fobia pode assim ser definida como um medo irracional e exacerbado, em que este sistema de alarme é disparado por um estímulo mais ou menos específico. Este estímulo pode ser um local, uma situação ou um objecto e pode tomar as mais diversas formas. Podemos encontrar fobias de água (hidrofobia), do ar (aerofobia), de certos animais (como, por exemplo, a aracnofobia ou a felinofobia), da morte (tanatofobia), de espaços fechados (claustrofobia), de sangue (hematofobia), de objectos cortantes, de andar de avião, de atravessar a rua, etc. Cada uma com o seu nome.

Cada vez se “descobrem” mais nomes para dar a mais fobias específicas. Por uma questão de practicalidade e simplicidade nas nomenclaturas, foram definidos 3 tipos de fobias: fobia específica, fobia social e agorafobia (com ou sem transtorno de pânico associado).

A Agorafobia tem como característica central a ansiedade acerca de estar em locais ou situações das quais poderia ser difícil sair ou nas quais pode não haver ajuda disponível na eventualidade de ocorrer, por exemplo, um ataque de pânico ou sintomas associados. Esta ansiedade e o medo levam ao evitamento das mais diversas situações.

Sendo que ambas as emoções de que falo são em tudo idênticas, falamos do mesmo tipo de manifestações sintomáticas, que poderão ser somáticas ou cognitivas. De entre estas manifestações podemos referir as tonturas, inquietação, palpitações, taquicardia, formigamentos, tremores, suores excessivos, confusão, sensação de falta de ar, medo de morrer, medo de perder o controlo, desconforto abdominal, náuseas, diarreia, urgência urinária, hiper-reflexia, dores musculares devido à tensão, entre algumas outras variações.

Vimos então que existem os mais diversos tipos de fobias e a característica que distingue este tipo de distúrbio do transtorno do pânico ou o da ansiedade generalizada é o facto de existir um estímulo específico e identificável que dá início à reacção de ansiedade.

Chegamos no entanto à conclusão que, no fundo, todas se resumem ao mesmo: o medo do medo, pois o que está por detrás do comportamento e mesmo da sintomática, é a associação que o sujeito fez a determinado estímulo. E o medo dos próprios sintomas, assim como àquilo a que eles podem levar, leva ao evitamento das situações e objectos-estímulo.

Um facto recorrente em diversas pesquisas é a medida em que a ansiedade afecta as nossas vidas quando o sistema de defesa e alarme é disparado por um estímulo não específico ou que não representa um perigo real, seja para a sobrevivência do organismo ou a nível social.

A ansiedade e o medo são, de facto, estados emocionais que “ocorrem” naturalmente nas nossas vidas. É a partir do momento em que estes começam a ser sentidos de forma persistente e perturbadora, que precisamos de tomar uma atitude. Por vezes pode, inclusivamente, dificultar a ascensão na carreira profissional, quer essa fobia se demonstre nos relacionamentos, ao falar em público ou ante a possibilidade de andar de avião quando este tipo de deslocações se fazem de alguma forma necessárias para tal progressão.

Quando o medo atinge tais proporções na vida de alguém, é necessária ajuda para o vencer e aprender a lidar com a ansiedade.

De entre a oferta terapêutica existente, encontramos a terapia comportamental, a existencial, a Gestalt, a psicanálise, a terapia centrada na pessoa, análise transacional e hipnoterapia. A abordagem terapêutica mais comum na fobia específica será talvez a dessensibilização sistemática e com muito bons resultados. Mas cada pessoa é diferente e assim o seu universo de experiências, como tal deverá ser o seu tratamento.

Podemos encontrar as mais diversas causas na origem destes transtornos fóbicos e de ansiedade, assim como diversas teorias que os procuram explicar.

De acordo com a teoria psicanalítica, e segundo Freud, existem dois tipos de ansiedade: a ansiedade resultante da libido frustrada e a ansiedade decorrente de um sentimento difuso de preocupação ou medo que se origina num pensamento ou desejo reprimido.
Também as teorias cognitivas nos indicam que estes distúrbios surgem de crenças e pensamentos inapropriados e inexactos relativos a circunstâncias do mundo da própria pessoa.

Segundo a teoria comportamental, a ansiedade será uma resposta condicionada a determinados estímulos do meio ambiente do indivíduo.

A teoria existencial tem como ideia principal o facto de que o indivíduo toma consciência de um profundo vazio na sua vida, uma percepção que se pode tornar extremamente perturbadora, sendo a ansiedade a sua resposta a este imenso vazio existencial e de significado.

Nas teorias biológicas, existem estudos genéticos que mostram dados consistentes quanto à existência de pelo menos um componente genético envolvido no processo. Sabemos ainda que o nível de ansiedade do indivíduo se relaciona a um gene específico envolvido na produção da serotonina, que vai no sentido das descobertas que indicam que certas deficiências químicas no cérebro parecem produzir alguns tipos de distúrbio de ansiedade.

Estas descobertas vão ao encontro de outras que nos relatam até o mesmo tipo de fobia em mais do que uma pessoa da mesma família. Facto que pode, no entanto, ser explicado pela teoria comportamental como um comportamento herdado, não via genética, mas via observação e aprendizagem.

Outros pesquisadores acreditam ainda que a causa pode estar na actividade exacerbada do sistema nervoso autónomo, numa amígdala demasiado activa, área responsável pelo disparo do alarme, ou deficiente activação do córtex pré-frontal, área responsável pela “travagem” do mecanismo.

Concluindo, existem diversas teorias para as causas dos distúrbios de ansiedade, no entanto nenhuma explica integralmente a totalidade dos casos.

O melhor tratamento vai depender então das mais diversas circunstâncias.

A hipnoterapia pode ser de uma ajuda valiosa neste sentido, uma vez que tanto vai abordar a vertente cognitiva, como a comportamental, podendo, se necessário, passar pela análise, pela dessensibilização ou qualquer outra abordagem terapêutica que mais se adeque ao sujeito, tirando partido do estado de atenção concentrada e do relaxamento não só físico, como também, digamos, o relaxamento das crenças e aprendizagens limitadoras existentes.

Referências:

  • American Psychiatric Association (2000). DSM-IV-TR. Retirado de http://virtualpsy.localweb.com.br/dsm.php
  • Selye, H. (1978). The Stress of Life,Revised edition. New York: McGraw-Hill Book Co.

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