
É devido ao apego que cultivamos na nossa vida e na nossa sociedade que sofremos com cada separação, seja esta entre pessoas, situações ou objectos materiais.
O apego que cultivamos com aquilo que vamos acumulando no sótão das nossas casas, assim como no sótão das nossas mentes. O apego que cultivamos com as vidas que trazemos ao mundo na forma de filhos, de quem nos achamos “donos”. O apego que cultivamos com aqueles que nos são queridos, achando que estaremos bem apenas enquanto partilharem as suas vidas connosco. Assim como o apego que cultivamos com as nossas zonas de conforto, sejam elas físicas, emocionais ou mentais.
Quando os filhos nascem, eles não são dos pais ou restantes familiares directos. As crianças são responsabilidade de todos e felicidade de todos.
Kahlil Gibran, no seu livro O Profeta, escreve que as crianças nos são emprestadas pela vida para que lhes possamos “passar” aquilo que fomos aprendendo e as possamos preparar para a sua caminhada, dentro das suas escolhas, do seu livre arbítrio.
Elas não são propriedade de ninguém. São pequenas pessoas a quem teimamos contar histórias de cegonhas e pais Natal. Pequenas pessoas com quem podemos e devemos falar “a verdade” na linguagem que entendem e a que estão habituados, pedindo a sua opinião e contando com a sua presença em decisões que conseguem compreender. Elas compreendem muito mais do que julgamos.
Pequenos grandes homens e mulheres que tanto têm a nos ensinar se nós deixarmos que eles “sejam” de acordo com a sua essência. “Pôr-lhes o nosso carimbo” não será impor-lhes as nossas limitações ou deixar que herdem os nossos medos, aprendendo-os dia após dia, mas tem mais a ver com mostrar-lhe os princípios da vida.
Criá-los sem incentivar esse apego é dar-lhes a oportunidade de aprenderem também com os outros, de crescerem saudavelmente e sem “traumas” sempre que uma separação se torna necessária ou imposta por circunstâncias da vida. Não significa que não os criamos de forma saudável, mas não será caso de pensarmos no assunto?
Da mesma forma, sentimos este apego quando nos separamos de alguém. Quando duas pessoas que trilhavam um mesmo caminho, decidem separar-se por algum motivo, geralmente e pelo menos para um, vem a dor. A dor da sensação de perda, que resulta do apego.

Se deixarmos o outro ser livre e nos mantivermos coerentes com a nossa real essência, essa dor não tem por que existir. Connosco ou não, partilhando o mesmo caminho ou não, celebramos a felicidade do outro em cada escolha, incentivamos a sua auto-descoberta, apoiamos a sua busca por si mesmo e o encontro com o seu centro, assim como o fazemos em relação a nós próprios.
O mesmo apego é cultivado em relação a situações ou a bens materiais. Quantas vezes descobrimos que foi necessária uma grande mudança na nossa vida, algo que nos trouxe algum nível de dor, para que saíssemos da nossa zona de conforto e descobrirmos que também podíamos encontrar felicidade noutras pequenas coisas, noutras formas de estar, noutras situações a que não nos lançávamos por serem diferentes ou desconhecidas.
Quantas vezes nos doeu uma perda material por nos afeiçoarmos a algo que até nem ligávamos no dia a dia, mas que alguém nos oferecera num momento especial da nossa vida, carregado de emoção. E vamos seguindo o nosso caminho com todos estes pesos, o peso das recordações que teimamos em não deixar onde elas pertencem, o peso dos apegos…
Sim, apego também pesa. Apego condiciona. E seguimos esse caminho condicionados, de asas cortadas, de mochila carregada às costas até descobrirmos um dia que o peso da alegria, da liberdade (no sentido em que aqui é descrita), da partilha, do novo… pode ser tão mais leve!
Será o apego realmente necessário na nossa vida?
E lá porque chegamos à conclusão que não necessitamos do apego, isso não significa que tenhamos de cultivar o desapego. Em tudo pode ser encontrado um equilíbrio. Até na diferença entre os nossos conceitos e os dos outros.
Deixe o seu comentário abaixo
