chegando onde é essencial

Artigos & Reflexões

por Sofia Morgado

O lado negro do mindfulness

Nos últimos anos tem proliferado o tema do mindfulness e a divulgação dos seus benefícios. A pesquisa existente sobre o tema e a sua prática tem demonstrado que esta é uma excelente ferramenta para ajudar a gerir os níveis de stress, a equilibrar as emoções, a lidar melhor com aquelas situações cuja mudança sentimos fora do nosso alcance e a uma maior eficácia a nível mental. De tal forma que quando surge alguém que não consegue meditar, focar a sua atenção no presente ou que sente um maior desconforto ao fazê-lo, o dedo é apontado ao indivíduo, pois a responsabilidade da prática é sua.

Se por um lado esta afirmação é verdadeira, também o é que nem todas as ferramentas servem todos os indivíduos ou situações. Existem muitas formas de relaxar a mente e fazer face ao stress com maior tranquilidade, a meditação não é a única.

Sim, é útil. Sim, é eficaz. Mas sê-lo-á para todos?

Imagino se o leitor será alguém que:

  • gosta de ligar o rádio ou alguma outra “companhia” logo pela manhã;
  • faz a viagem de carro ou outro transporte sempre com o rádio ou a música ligados;
  • chega a casa e liga rádio, televisão ou música e só desliga ao adormecer.

Nesse caso, talvez possa sentir alguma dificuldade em lidar com o silêncio.

Imagino se desse lado da tela estará alguém que está sempre activo a um nível frenético e lida bem com as exigências do meio em volta ou que talvez sinta necessidade de ocupar a sua atenção com algo exterior devido ao desconforto causado pela conversa da sua mente. Neste caso, é provável que a meditação lhe seja desconfortável.

A meditação ou a prática do momento presente levam-no a dar atenção ao espaço interior, deixam-no disponível para notar tudo o que costuma estar ali em pano de fundo, mas oculto por outras actividades e “distrações”.

Este é o lado negro destas práticas.
Elas permitem que a mente “respire”, que alargue os seus horizontes, mas também permitem que veja o que muitas vezes não quer ver.

Se isso é um problema? Pode ser. Especialmente se não existe o apoio para arrumar esse material que está pelo meio do caminho na sua mente, tal qual patim que pisa ao avançar às escuras.

Se experimentou meditar e a prática lhe trouxe desconforto, antes de mais procure obter instruções mais detalhadas sobre como o fazer da melhor forma. Por vezes não são dadas as instruções necessárias para o fazer. diria que, mais do que isso, muitas vezes as instruções dadas não são adequadas às necessidades do aspirante a praticante.

Na prática clínica, peço muitas vezes aos meus clientes para experimentarem um breve exercício de respiração, uma prática de um minuto apenas. Este exercício pode ajudar a qualquer um dos benefícios indicados acima para a prática do mindfulness, assim como a interromper determinados padrões e a reeducar a mente. No entanto, por mais simples que este seja, sugiro esta prática das mais diversas formas, pois procuro sempre adequá-la às necessidades demonstradas pelo indivíduo.

Assim precisará de ser com qualquer outra ferramenta.

E com o treino do exercício adequado poderá facilmente chegar onde pretende.

Caso, ainda assim, experimente o desconforto, pode haver a necessidade de trabalhar esses conteúdos que vieram ao de cima e de procurar ajuda para o fazer. Uma situação de pós-stress traumático sem consciência, por exemplo, é comum. E o conteúdo traumático pode surgir novamente à consciência, gerando muito desconforto. Se isto acontece com o acompanhamento adequado, como em psicoterapia, está tudo bem, pois tal conteúdo pode ser trabalhado e adequado, minorando ou mesmo dissipando o desconforto por completo.

Contudo, dependendo das necessidades e da forma de funcionar de cada um, poderão existir ferramentas que sejam mais adequadas do que a meditação. Esta não é a única forma de relaxar a mente. Pode fazê-lo ao ler um livro, ao ver um filme (com as suas condicionantes), ao fazer uma caminhada ou qualquer outra actividade que lhe dê prazer fazer.

Esta, como qualquer outra ferramenta, pode ser usada de uma forma adequada e sentida como benéfica, ou causar-lhe prejuízo.

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