Numa altura em que as vidas estão aceleradas, a agenda lotada de afazeres e uma boa parte do contacto social tem adoptado uma forma mais virtual, os sintomas de ansiedade e os sintomas depressivos têm sido a resposta cada vez mais “normal” à falta de contacto com o eu e a uma definição inadequada das prioridades do ser.
E é neste contexto que surgem as circunstâncias que nos levam a seguir medidas de contenção de forma a que as variáveis sejam controladas e a equação atual resulte da melhor forma possível.
No entanto, quando nos vemos privados da nossa rotina e de alguma liberdade (mesmo que seja aquilo que faz sentido fazer), os nossos pensamentos e emoções podem acrescentar pressão desnecessária e assumir o controlo à revelia da nossa vontade.
Para além disso, a incerteza pode ser um verdadeiro desafio e adicionar mais pressão e ansiedade, pois o nosso cérebro está preparado para procurar o perigo perante o desconhecido, o incerto.
Ele fá-lo para nos proteger mas o processo pode ser muito desgastante.
Fortalecer o músculo da resiliência
Segundo a Associação Americana de Psicologia (APA), resiliência é o processo de uma adequada adaptação face a uma adversidade, tragédia, trauma, ameaça ou fonte de stress significativo.
Significa voltar ao estado normal, recuperando de experiências difíceis.
Se mantiver o foco em objetivos que pretende alcançar, a objetividade torna-o mais resiliente e mais dificilmente será derrubado por um estado emocional.
Por outro lado, se estiver emocionalmente vulnerável quer devido a uma noite de pouco descanso ou uma situação indutora de stress que persiste no tempo, como aquela em que nos encontramos, a sua capacidade de resiliência estará diminuída.
Assim sendo, cuide de si.
Eis algumas estratégias que fortalecem o seu músculo da resiliência (pode fazer o download aqui):
1. Positividade – Tire algum tempo todos os dias para descobrir algo por que agradecer.
2. Criatividade – Invista 5 a 10 minutos por dia para escrever ou pintar só por divertimento.
3. Conexão – Faça uma pequena acção por dia que ajude a criar uma nova relação ou fortalecer uma existente.
4. Experimentar – A cada dia, faça algo novo ou pouco familiar.
5. Confiança – No final de cada dia, identifique algo novo que tenha aprendido.
6. Estrutura – Invista 5 a 10 minutos por dia para planear ou organizar algo.
7. Prioridades – A cada manhã, identifique os três objetivos mais importantes para o dia.
No entanto, neste momento, fazendo-o no conforto do seu espaço.
Tudo na vida tem dois lados
Ainda assim, mesmo deixando de lado a incerteza vivida neste momento (tanto no foro da saúde quanto no financeiro), se aprendemos com a vida a ver o lado negativo das circunstâncias ou formos de alguma forma orientados a procurar o problema e as dificuldades, pois então será aquilo que encontraremos.
Ser realista não é antecipar o negativo para estar preparado. Ser realista é lembrar que toda a circunstância tem um lado positivo e um lado negativo. E usar ambos de acordo com as necessidades e os objetivos do momento.
Contudo, se toda a situação traz a oportunidade de nos acrescentar algo, cabe a nós aproveitá-la.
Como pode esta crise ser positiva?
Quando nos vemos “forçados” a fechar-nos em casa e reduzir ao mínimo o contacto com os outros durante algum tempo, temos a oportunidade de valorizar estes contactos e, eventualmente, de começar a sentir necessidade dos mesmos.
Podemos chamar-lhe de uma espécie de detox de pessoas. 🙂
Quando nos vemos “forçados” a reduzir as saídas, eventos e simples deslocações de um lado para o outro, podemos sentir-nos inicialmente aborrecidos. É então que surge a oportunidade de voltarmos a apreciar e mesmo sentir entusiasmo com as coisas mais simples como ler, ouvir os passarinhos ou partilhar um sorriso.
Esta é uma espécie de detox de dopamina. A dopamina é um neuroquímico que nos faz sentir bem e cujas doses, quando libertadas na corrente sanguínea muito frequentemente, levam a uma maior tolerância nos seus receptores.
Ou seja, pode precisar de fazer um detox deste químico, através de um aborrecimento auto-infligido, de forma a que os seus neuro-receptores recuperem a sensibilidade e possa voltar a sentir prazer com coisas simples.
Por outro lado, uma vez que as saídas foram reduzidas ao essencial, há uma redefinição de prioridades inevitável, assim como mais tempo livre para ocupar.
Não diria propriamente para ocupar com tarefas, mas para necessariamente ocupar consigo.
Assim sendo, aproveite e cuide de si.
Pode usar esse tempo para simplesmente nada fazer ou para fazer algo que há muito adiava, ou ainda algo novo.
Pode aproveitar e aprender online algum assunto do seu interesse. Tem aulas abertas gratuitas em diversas universidades por esse mundo fora e sob os mais diversos temas. Tem pequenos cursos em plataformas educacionais. Mas também pode aprender com um livro.
Pode começar um diário, recuperar a tradição dos jogos de tabuleiro ou inventar um.
Pode finalmente começar a sua prática de meditação diária ou mesmo de exercício físico.
Se tiver quintal ou uma varanda, vá até lá fora, apanhe um pouco de sol, sem desfazer das janelas que cumprem bem a sua função. Aproveite para arejar a casa, que agora é mais vivida. Pode até antecipar as limpezas de Primavera.
Aproveite e descanse, instituindo uma boa higiene do sono.
Sobretudo, mantenha-se a par, mas limite as inquietações e preocupações (suas e da sua família) diminuindo a exposição a notícias que considere perturbadoras.
Cuide de si e dos seus.