Quem não conhece uma pessoa difícil? Até nós, por vezes, somos difíceis para alguém.
Falar sobre pessoas difíceis implica falar sobre a aceitação, do outro e do desconforto que ele nos traz.
Já falei antes sobre o poder que aceita ou entrega ao outro, mas que é seu. O poder para escolher deixar determinada situação ou pessoa mexer os seus cordelinhos ou não. Aliás, os cordelinhos desta expressão são os das marionetas, que se movimentam e ganham vida às mãos de alguém.
Ninguém gosta de ser uma marioneta nas mãos de outra pessoa, mas o certo é que entregamos muitas vezes os cordéis ao outro, à situação ou à vida.
Temos o poder de o fazer ou não. Podemos agir de acordo com o desconforto, reagindo, ou apesar do desconforto, agindo.
Tal como na coragem, podemos agir de acordo com o medo e fugir ou podemos agir apesar do medo e enfrentar a situação da melhor forma.
O outro é como é e não pode mudá-lo, pode dizer-lhe como o faz sentir determinada situação, que lhe diga respeito (ex. a forma como o trata), e aquilo que pretende, deixando claras as suas necessidades e os seus limites. Depois, é escolha do outro fazê-lo ou não.
Se o outro o respeitar, fantástico. Tudo melhorou. Se não o fizer, pode simplesmente retirar-se da relação. O que quer dizer que melhora também. Só continuar a fazer igual e rezar para que as coisas mudem, continuará a ser sofrido.
Imagine que é alguém com quem precisa de lidar, como um colega de trabalho, o chefe, ou a sogra.
Definiu os seus limites para si mesmo? Disse ao outro quais eram, o que não iria tolerar mais? O outro continuou a abusar? Retire-se da relação. Deixe claro que não pretende aquilo e relacione-se o indispensável com essa pessoa.
Agora, não o faça porque a pessoa não o respeita, mas porque está a cuidar de si e porque se respeita a si mesmo. Parece a mesma coisa? Não é. O foco é diferente.
Na primeira situação, o foco está no quão difícil o outro é. Na segunda, está no seu bem-estar e a sua responsabilidade em promovê-lo. O resultado também vai ser diferente.
Não deixe que o carácter ou o comportamento do outro sejam o seu foco. Cuide antes da sua vida, cuide de si. Porque, na vida, obtém mais daquilo em que se foca.
Por vezes o outro quer/precisa apenas de atenção. Dê-lhe aquilo que ele precisa – de coração – mas não da forma que o pede.
Sinta verdadeiramente, que o outro está no seu caminho de aprendizagem e a fazer o melhor que sabe. Lembre-se disto quando sentir que o outro se está a aproximar dos seus botões. E lembre-se que, se ele lá chegar, os botões estão em si, não lá fora.
E o que são esses botões? Assuntos que ainda não arrumou devidamente. Os tais cordelinhos deixados ao acaso, deixados mesmo à mão de um outro qualquer. Muitas vezes, mágoas que já nem lembra e que ainda não libertou. Isso não é responsabilidade do outro e sim sua.
É como o outro se chegar ao pé de si e lhe dar uma palmadinha nas costas, mesmo em cima do escaldão que apanhou no fim de semana anterior. Mesmo que o outro saiba do escaldão, este é responsabilidade sua. Só tem de dizer-lhe como o toque o faz sentir e dizer “Não”.
Imagine que o outro diz mal de tudo e todos. Experimente perguntar-lhe tranquilamente “E coisas boas, consegue ver alguma? Pode contar-me quais são?”. Ajude-o a fazer algo que ele sente dificuldade em fazer.
Imagine que o outro diz mal de todos e de tudo, inclusivamente o que você faz. Experimente chegar-se mais perto, dar-lhe um meio abraço e dizer “Eu também gosto muito de ti!”. Como imagina que resultaria?
Agora experimente fazê-lo e veja o resultado. O resultado no outro, que fica muitas vezes desarmado, e o resultado em si – já que o foco é diferente.
Não se sente capaz de o fazer? Essa já é uma responsabilidade sua e não do outro. E esse é o motivo pelo qual muitas vezes imagina um resultado pior de qualquer mudança no seu comportamento, antes mesmo de a experimentar.
Assuma o seu poder!
Escolha o foco que prefere, a frequência em que prefere sintonizar-se e que lhe é mais útil, porque está ao seu alcance fazê-lo.
Dizemos muitas vezes “não consigo, é mais forte do que eu”, mas será mesmo? Quem julga que dá força àquilo? É a sua força. Portanto “é mais forte do que eu” é apenas uma desculpa para nada fazer. Porque é mais fácil nada fazer, deixar que o outro escolha e que o outro arque com as responsabilidades também (entenda-se culpa).
No fundo, ao lidar com pessoas difíceis, está a lidar com as suas vulnerabilidades (os tais assuntos desarrumados) e com a sua relação com o seu poder.
O problema não está no outro, mesmo que lhe pareça que sim.
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