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Artigos & Reflexões

por Sofia Morgado

O silêncio

Há pouco tempo descobri o canal de Chris Lenart no YouTube, que partilha vídeos sobre deficiência, diferença e as dificuldades sentidas por quem a tem.

Sendo portador de deficiência, ele comenta num vídeo uma dificuldade que sente ao lidar com os outros. Enquanto não verbal ele recorre a um computador ou um tablet para poder comunicar com os outros e digita a sua mensagem no teclado com recurso a uma ponteira presa na sua cabeça.

Naturalmente, quando alguém lhe pergunta algo ou interage com ele de alguma forma, ainda demora um bocado para que possa dar resposta. E ele diz que, muitas vezes, as pessoas não esperam pela resposta porque não têm paciência para esperar que todo o processo se desenrole.

Embora o Chris o experimente, provavelmente, a um nível diferente, diria que este é um problema que nos toca a todos, de uma ou de outra forma.

Muitas vezes presencio, assim como experimento em primeira mão, o mesmo entre pessoas sem deficiência ou outras dificuldades incapacitantes aparentes. Pessoas que fazem perguntas e não esperam pela resposta. Quer mudem de assunto, disparem outras perguntas de seguida ou comecem a respondê-las por si mesmas, não dão espaço ao outro para que ele se expresse.

E se por um lado parece indicar a falta de interesse na resposta do outro, como se de uma pergunta de ocasião se tratasse, por outro parece indicar a incapacidade do mesmo manter a sua mente quieta. Porque este pode ser um sinal da dificuldade de concentração numa ideia, e quando o outro começa a responder, a pessoa já se encontra noutras paragens.

Mas também pode ser que simplesmente não se importe com o assunto e esteja apenas a “fazer conversa”. Mas então porque pergunta?

Qual a real necessidade da conversa de ocasião?

Quebrar o gelo? Na maioria das vezes nem é o caso.

Ou será para quebrar o silêncio?

Porque o silêncio pode ser desconfortável. Especialmente numa sociedade em que se aprende e incentiva a evitar o ócio e a produzir em grandes quantidades, tanto resultados quanto pensamentos, como se estes fossem sinónimo de sucesso e progresso.

Pode ser sim. Pode ser que não.

Contudo, o silêncio também pode ser desconfortável para uma mente que em si carrega o desconforto e que precisa de abafar os “ruídos de fundo” para o evitar o mais que pode. Uma consequência costuma ser a pessoa entrar em casa ou no carro e ter necessidade de ligar de imediato rádio ou televisão, ou ter de adormecer com o ruído da televisão no fundo. Tudo para evitar o silêncio exterior que permite ouvir o murmúrio na sua própria mente.

Mas tanto televisão, como rádio, música ou conversa de ocasião têm algo em comum nestas situações: são apenas ruído.

Sabe quando alguém que está a tentar ignorar fala consigo e vai continuando, insistindo e falando cada vez mais alto até chamar a sua atenção? E sabe como só quando lhe dá ouvidos e resolve a situação, aquela voz se cala?

Com esse murmúrio interior é igual. Ele vai se intensificando, insistindo e aumentando de volume até você resolver a situação ou fazer o que precisa ser feito em determinada área da sua vida.

Se o exemplo lhe soa familiar, permita o silêncio e resolva o que precisar da sua atenção.

Se o desconforto não for o problema, lembre-se de esperar pelas respostas do outro. Afinal o interesse é seu, já que perguntou.

Não tem qualquer interesse para si? Não pergunte. Se quer quebrar o gelo, mantenha-se pelos assuntos que lhe interessam.

Se as perguntas lhe são dirigidas a si desta forma, pergunte ao outro se quer mesmo saber a resposta e explique-lhe porque o pergunta. Mas lembre-se que para a comunicação ser mais eficaz, o objetivo não é apontar o dedo ao outro e sim comunicar-lhe como o sente do seu lado.

Desta forma, o encontro torna-se mais genuíno e a relação fortalece verdadeiramente.

Como se sente, quando mergulha no silêncio?

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