Uma vez alguém me disse que achava perigoso o “novo movimento” que abundava por aí, que nos responsabiliza pela nossa vida, dizendo que podemos ser e ter tudo o que queremos, expressando o nosso verdadeiro SER porque, de contrário, onde ficaria a justiça se assim fosse?
E a pessoa continuava, dizendo que somos criadores, mas que existe um criador maior e que ele é que sabe o que é melhor para nós, independentemente da nossa vontade.
Contudo, responsabilidade e consciência são dois termos que me são queridos e a minha linha de pensamento foi: porque havemos de continuar a delegar as nossas responsabilidades nas mãos de uma entidade exterior? Será assim tão difícil assumir a responsabilidade pelas escolhas que fazemos e pelo rumo que leva a nossa vida?
Há pouco tempo reflectia sobre este mesmo assunto, após uma partilha resultante dos Encontros na Plenitude. De vez em quando o tema é levantado porque esta é uma crença algo comum, a de que se “forçarmos” de alguma forma os acontecimentos da vida a nosso bel-prazer, podemos estar a ir contra os planos que Deus, a Vida ou o Universo poderão ter para nós.
O problema não é acreditar ou deixar de acreditar em algo nesta linha. O problema é quando, apesar de pensar e sentir desta forma, ao mesmo tempo se revolta ou angustia com as agruras da vida. O problema é pensar assim nuns momentos e noutros queixar-se do azar que tem na vida.
É como dar um tiro no pé. Se por um lado não cuidamos das nossas necessidades e interesses, por outro queixamo-nos que mais ninguém o faz. Seja este alguém um outro próximo ou uma entidade divina. É um desconforto que não pode ser apaziguado porque as soluções apontam para lados opostos e qual será o correcto?
Talvez seja preciso começar por aí: o que lhe parece mais correcto para si? O que lhe faz mais sentido? E abrace esse sentimento, abrace essa ideia!
Tudo o mais é uma questão de opiniões formadas por universos únicos de conhecimento e experiências.
Quem saberá qual o melhor caminho, a escolha mais adequada ou a verdade última de cada um?
Nós apenas percepcionamos partes da realidade. Como tal, o nosso universo de conhecimentos é sempre parcial e, portanto, incompleto.
Somos detentores da verdade, sim, a nossa. E isso não a diminui de alguma forma. Apenas dá espaço para a existência de outras verdades, reconhecendo-as por aquilo que são, a verdade de e para cada um.
É fácil dizermos que é de uma ou outra forma, que os outros estão errados ou que se deixam iludir facilmente. Mas por vezes é difícil reconhecermos as nossas próprias ilusões e deixar que a nossa verdade se desenvolva e tome novas formas. Por ser mais confortável, deixamos – e queremos – que ela fique onde está e que os seus limites não se alterem.

Imagine dois investigadores trabalhando sobre a mesma pesquisa, de formas diferentes. Cada um faz uma descoberta maravilhosa e acredita ser essa a fórmula que procurava. Ao partilharem os resultados, desacreditam a experiência do outro pois julgam que apenas a sua pode ser verdadeira e fecham-se ao que o outro lhes poderia trazer.
Cada um deles experimentou, reproduziu e provou os resultados e sabe que é assim, como pode o outro dizer que não e afirmar uma verdade diferente com tamanha certeza?
Cada um fica com a sua verdade, considerando que o outro está errado e separam-se. Deixam de partilhar os seus resultados com o parceiro porque consideram que as duas experiências não podem coexistir e que algo deve estar errado no processo.
Como resultado, as suas pesquisas continuam, em separado, e vão evoluindo naquilo que consideram ser campos opostos.
Imagine agora que eles permanecem abertos à verdade do outro e a pesquisam juntos, respeitando o olhar e experiência do outro.
Pode acontecer que as suas verdades acabem por se tornar numa verdade mais extensa. E cada vez será uma verdade maior, mesmo que cada um a experiencie à sua maneira.
A nossa vida em sociedade funciona como no primeiro exemplo. Na generalidade, trabalhamos em separado por objectivos que até podem ser comuns, mas não unimos esforços porque a nossa verdade tem de ser a verdade absoluta e não admitimos que possa coexistir, em equilíbrio, com as outras verdades. Não admitimos que esta pode apenas ser mais uma parte do grande todo, a verdade que escolhemos vivenciar no momento.
Estas lutas pelo poder e pela verdade são esgotantes e fragmentam o todo em pequenos pedaços que têm mais dificuldade em usar o vento da melhor forma para serem levados ao seu destino.
E se admitirmos que nenhuma verdade invalida a outra? Não é pelo facto da verdade do outro poder ser ‘verdade’ que a nossa deixa de o ser. Cada uma delas é real no seu próprio universo.
Deixe o seu comentário abaixo
